terça-feira, 23 de setembro de 2014

Ir embora e me afastar

"Querido, eu pensei que seria difícil deixá-lo, pensei que seria complicado viver sem ti, que eu iria cair em minhas próprias armadilhas, iria tropeçar nos meu próprios passos. Mas hoje vi que estava enganada.
Depois que deixei de tê-lo pelas metades, depois que deixei de vê-lo em meus sonhos, depois que parei de escrever-te em meus poemas falidos, percebi que você era para mim só um apoio que eu nem precisava.

Achava que com você ao meu lado, caminhando por aí nessas estradas sem rumo, acampando nas florestas de meus cabelos em chamas, cantando para os mares de nossos corações, eu seria completa e feliz, eu seria mesmo.

Seria, se você não vivesse pelos cantos de nosso labirintos, fugindo com seus pedaços despedaçados, pelo mundo que considera-se só seu. Seríamos inundados com nossos pedaços juntos. Mas amor, você deixou-me perdida com suas metades vividas. Eu não iria mergulhar dentro de ti, se seu coração estivesse seco.


Não iria perder-me nas esquinas de sua boca se não beija-se-me sem receios. Não iria esperar-te naqueles bancos daquela praça hoje já esquecida, tragar-te com todo o seu thc e assumir a sua essência angustiante.

Não iria beber-te em um gole só como aquela cachaça barata que tomávamos naquele bar de esquina, não iria parar nos subúrbios submersos de amores resgatados, nem dormir nos hotéis daquelas cidades perdidas em que nos perdíamos um no outro. Eu não iria caminhar quilômetros, nem pegar aqueles trens vazios que cheiravam a solidão para chegar aonde nem sabíamos.

Afinal, tudo o que sobrou-me de ti, foram aquelas lembranças esquecidas nas cidades em que nunca mais visitei-as, foi aquela gaita com o teu gosto de sua boca em que tocavas com a alma, aquelas garrafas de cervejas jogadas em qualquer canto desse mundo, aquele blues que nem soa mais em meus ouvidos, aquelas bitucas de cigarros apagadas em seu peito inerte de sentimentos estragados.

O que sobrou-me de ti, foram somente essas palavras que daqui a uns tempos será esquecidas e perdidas junto com tudo o que foi-se esquecido."

Estrada é a meta!

Estrada é a meta!