domingo, 1 de março de 2015

Desapego é o caralho! By Joce Rodrigues

Essa coisa de exercitar o desapego deveria ser proibido, pelo menos quando se trata de você e eu. Coisa chata isso de tentar fingir que não quer aquilo que intensamente se deseja. Quem inventou que isso faz bem ao casal deve ter sido um solitário infeliz pra caralho, aposto três cervejas que sim. Não deve entender nada de relacionamentos de verdade, dos que envolvem tesão, brigas sem sentido e o mesmo número de xingamentos e apelidos carinhosos, alternados entre momentos de amor e ira. Um cabaço, pra não dizer coisa pior.
Odeio esse papo de “não devemos explicações um pro outro”. Quem em sã consciência pensa em liberdade total quando carrega uma paixão no corpo? É tanto cego correndo no meio desse tiroteio, achando que vendar os olhos evita bala perdida. Não estou falando que não acredito em independência, nem vem colocar ponto final na minha vírgula. O que estou falando é que relação é coisa complicada e por isso mesmo gostosa. Imagina uma salada sem tempero: pois é, assim seria se tivéssemos o controle de tudo.
O problema está nos extremos. Se você é romântico demais, dá merda; se você é desprendido demais, dá merda. “É preciso equilíbrio”, dizem os velhos poetas de boteco, que passam as tardes bebendo cerveja barata e desejando bundas, peitos e pernas alheias. Eles sim sabem das coisas.
Não se trata de posse, é algo que vai além disso. É desejo de ser um só com e em outra pessoa, é não possuir algo pra chamar de meu, embora te ouvir me chamar de seu na cama dê um tesão desgraçado. Sei que você também gosta de ser chamada de minha (minha puta, minha mulher, minha gostosa), te vejo disfarçar um sorrisinho sacana quando isso acontece.
Meus gostos são duvidosos, de pouco refinamento. Meu francês é uma merda e não entendo de vinhos. Tudo o que tenho é um desejo de me perder em seus cabelos, preso em uma chave de pernas bem firme. Não só isso, porque quando você sorri esse meu pequeno mundo se alarga – de uma casca de noz vira sol.
A razão não faz o menor sentido quando estamos apaixonados. Quero dizer que ela não produz sentidos e significados como deveria, que vira um verdadeiro puteiro – o que pra mim é perfeito. Não sou de ficar buscando razão nisso e naquilo, eu vou e pronto e se eu tiver que me foder, que seja. Desconfio muito de gente controlada demais, sempre pensando em como soar segura e descolada.
Porém não suporto porra-louquice, manias quase suicidas e niilismo blasé. Ficar comigo é simples. Sem jogo (fora os sexuais), sem falsa maturidade. Vamos rir, sentir ciúmes um do outro, chorar, beber, fazer piadas horríveis e transar bêbados, como se não houvesse amanhã. Nos lamber de cima a baixo, sem nojinho, e experimentar novas posições e posicionamentos existenciais.
Me deixa te recitar Vinícius ao pé do ouvido, em tom pornográfico, só pra ver de perto teus lábios tremerem de prazer, imaginando o que está por vir. O teu gemido é meio caminho para o meu gozo. Meu mundo é esse; pequeno, quente e úmido, situado entre as suas pernas, esse jardim de delírios.
Não sou simpático a esse papo de desapego. Se quiser me pegar, tem que ser de jeito.

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