domingo, 26 de fevereiro de 2012

Era uma vez em Dijon, - Parte 2

Na verdade eu nunca fiz uma sequência de histórias, mas gosto de lembrar do final da temporada na região francesa da Borgonha (Bourgogne), reputada pela variedade e excelente qualidade de seus vinhos, pela gastronomia e pela herança histórica e arquitetônica, visível em suas cidades, castelos, igrejas e abadias. 



Para aqueles que leram meu texto anterior, podem lembrar quando disse que eu e meu amigo esperávamos a liberação da colheita de uva pelo Governo Francês, pois a forte onda de calor tardou o início da vindima. 

Meu amigo voltou para Paris, e eu continuei pela cidade, onde conheci muita gente, turistas e também muitos imigrantes portugueses, residentes, cidadães que trabalhavam, criavam e educavam seus filhos na região.

Entre estes imigrantes dois personagens que são a chave de ouro desta história:
O Moreira, e seu amigo Lima.


Como eu disse, morava em um camping, saia cedo e perambulava pela cidade conhecendo pessoas, que de uma certa forma seria, como foi, fundamental para conseguir um trabalho na vindima. Através destes dois  personagens, conseguimos trabalho, moradia na fazenda, café da manhã e excelente vinho.



A região é realmente linda!
Seus campos verdes, com suas plantações a ponto de ser colhida, criava em nós uma pequena ansiedade, mas não pelo trabalho (já realizado anteriormente na Suíça) e sim, pela grana $$$ que já tinha acabado há muito tempo.

Segundo palavras dos técnicos burocratas do governo, a colheita nunca começara tão tarde, novembro.





Imaginem, toda a nossa ansiedade! mas, voltemos a história. Esta é a galera que trabalhava comigo...



Quando falamos em plantações de uvas, parreiras, lembramos dos altos pés de uva que conhecemos no sul do Brasil. 
Não senhores e senhoras...
Seria aparentemente mais fácil se as uvas ficassem no alto esperando para serem colhidas, o que não acontece na França. As parreiras são baixas, precisamos rastejar para colhê-las. 
Enfim, sempre com bom humor e precisando do trabalho nós começamos.







O Moreira e o Lima, nos conseguiram este trabalho, que também nos oferecia moradia.


Na verdade, nos acomodaram na casa de um dos capatazes da fazenda, que morava na vila próxima. Era outro imigrante português, e amigo pessoal deles. Vou chamá-lo de Manuel, pois não me recordo seu nome. Este, por sua vez, tinha uma família grande, esposa e 5 filhos (se não me 
engano).



Todos moravam juntos, trabalhavam e estudavam por lá.      

O "Manuel" (este bigodudo) era um sujeito muito feliz, animado, realizado com seu trabalho, seu destino e sua vida.
Era tão feliz e disposto com seus afazeres diários que nos acordava com esta animação matutina às 3 e meia da "madruga" todos os dias!

Inacreditável! 
O nosso dia de trabalho era duro e começava às 8 da manhã, imaginem! O pior de toda esta piração, é que ele o "Manuel" acordava todo mundo da casa.
A esposa, que nos preparava o café da manhã, os filhos, que iam para a escola no período da tarde, isso mesmo, (a tarde) e os que, como nós íamos para a colheita.









Ainda estava escuro, tudo fechado, frio nas ruas, mesmo assim saíamos...

Como eu disse anteriormente, levávamos esta história com um bom humor inacreditável. Nos sentíamos num quadro surreal de Salvador Dali. 
É lógico que nós sabíamos que tudo seria temporário, e logo poderíamos levar nossas vidas normais.  Assim os dias foram se passando e logo chegou  o fim da bem sucedida colheita.

E quem comeu o pé do porco? 







Quero lembrar como nos divertimos no almoço de despedida.
Naquela porta grande ali atrás, foi servido um almoço maravilhoso a todos nós que trabalhamos duro nesta colheita.
Um prato típico da culinária francesa, a base de banha de porco, salsinha, cerveja e chucrute, influenciada pela cozinha alemã. Delicioso!

"Cuisine du Terroir"
A culinária local

A "cuisine du terroir" engloba especialidades regionais com um forte foco na qualidade do produto regional e tradição camponesa. Muitos pratos que entram nessa categoria não se enquadram no esteriótipo da "comida francesa", uma vez que muitas vezes não são tão elaborados. 
Mas, quem comeu o pé do porco?


Bons momentos serão sempre lembrados desta história, porém a que mais me marcou foi a brincadeira que eu e meu amigo Petes, fizemos com os portugueses da vez. 
Percebemos que o Moreira e o Lima, comiam e bebiam a vontade como todos nós, porém, cuidavam do pé de porco na travessa. Queriam curtir este pedaço da comida no final de tudo...

O prato que lembrava um bom cozido, passava de mãos em mãos, e todos se serviam, degustavam o tempero típico, mas os dois cuidavam do pé do porco...

Sendo residentes da região, eles não estavam nem aí para o prato, que para a maioria de nós era uma novidade deliciosa.

Para encurtar a história, o pé do porco sumiu! 
Alguém mais esperto, se serviu do "dito cujo".


Eu e o Petes também percebemos o sumiço do pé do porco, e iniciamos uma brincadeira para os dois portugueses...

Eu comentava com o Petes, assim...
Eu vi o Lima com o prato na mão, e vi ele se servir do pé do porco...

Neste momento, o Moreira ia pra cima do amigo chamando-o de todos os adjetivos possíveis e inimagináveis...


Então para não perder a vez, o Petes dizia que tinha visto o Moreira com o pé do porco em seu prato... Deste instante em diante, percebemos que estávamos provocando os dois amigos... e eles discutiam, se ofendiam, falavam nomes um para o outro... os estrangeiros que ali estavam, não se deram conta da brincadeira, mas sabiam que nós estávamos realmente nos divertindo muiiiiito...

Quando a discussão entre eles diminuía, começávamos de novo a brincadeira...e o bate boca recomeçava...

Foram muitos minutos de boas gargalhadas...
e, assim fizemos várias vezes...
Dizia em voz baixa, só para o Petes, mas que um dos portugueses escutasse...
Eu vi, eu vi mesmo o Lima com o pé do porco...
O Petes, falava baixinho pra mim... não foi o Moreira que comeu... e tudo recomeçava!

Apesar das tantas dificuldades e necessidades que atravessamos para estar ali, naquele momento, tudo valeu a pena!
Foram momentos de muita comida, muito vinho e muitíssima alegria!

Eu particularmente detesto pé de porco, mas a lembrança me traz muita saudade!

Onde e como estarão os participantes desta história?


Petes, engenheiro de Minas Gerais que foi meu grande companheiro por este período de Europa.

Porque não querer saber destes imigrantes portugueses da "Bourgogne".
Como será que estão vivendo? 
e suas famílias, que tanto nos ajudaram?

...Amigos deixo minhas sinceras saudações!

au revoir à mes amis

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